"NÃO VOS INQUIETEIS, POIS, PELO DIA AMANHÃ, PORQUE O DIA DE AMANHÃ CUIDARÁ DE SI MESMO. (...)" - MATEUS 6:34



segunda-feira, 25 de maio de 2009

DE OLHOS BEM ABERTOS


Mãe, um ser acima de qualquer suspeita.
* Beto Moura

Quem tem mãe aproveite ao máximo esta relação, pois de uma hora para outra é possível que o destino se encarregue, de oculta-lá, lá, lá longe, sabe Deus onde!


Ainda hoje lembro da minha, parece que a vejo sempre, nas atitudes, de achar que amanhã tudo vai melhorar. De acreditar nas pessoas e talvez perdoar incondicionalmente. De achar que nossos sonhos vieram pra ficar. De pensar que ela nunca fosse me deixar. Mas deixou...


Às vezes, choro por sua partida repentina. Sem um Adeus sequer; um último beijo, um abraço ou ainda uma mensagem que no futuro, lesse aos meus filhos...


Ela já não falava mais; tentava, mas...
Noutras, rio por sua chegada em minha vida. Imagina, nove meses de gestação e a chegança de um menino; já tinha duas meninas: Elza e Vera. Me amou, criou, educou, viu lançar-me ao mundo com engenho e arte. Sabia das dificuldades que iria encontrar, e foram tantas, que não estavam no script, mas minha mãe sempre estava por ali, pra me afagar...


Mesmo grande era um homem pequenino. Mesmo assim, ela não recuava; ficava atenta, como se tivesse marcando território. Ah! Se não a tivesse conhecido! Seria o homem mais triste desse mundão de meu, Deus!Um dramalhão mexicano ou italiano, além de outras coisitas mas...
Com sua partida não fui mais o mesmo, é, vero!
Ela me enganou.
Por quê?


Achei que fosse superar aquele momento trágico. Tinha superado tantos outros, em situações tão mais adversas. Todavia, não foi assim, ali, foi seu ponto final. Acho mesmo que ela já não queria viver – um outro AVC - cansada da sua rotina e desiludida da vida; então, foi embora pra nunca mais voltar...


Mas por que elas vêm, por que elas vão?
Quando vêm, encantamento em profusão.
Quando vão, desespero e solidão.
Se fosse Deus ! Ah, se eu fosse Deus...


Não permitiria que as mães morressem. Não. Isso é cruel demais... E se eu fosse dono, dono do mundo, isso não aconteceria mais...
Obviamente, é a parte que nos cabe deste latifúndio: nascer, crescer, morrer.
Todos haveremos de morrer, um dia, é a lei natural!
No hospital, perguntei, se ela queria ficar ou voltar pra casa. Ela decidiria o que fosse melhor.
Fiquei surpreso com a primeira opção.
Acatei seu desejo, quase uma ordenação.
Todo dia, um esforço sobre-humano. Arrolava-me naquele infortúnio...
Falava dos netos: Raphael e Lucas.
Mas ela simplesmente não respondia.
Definhava em lenta agonia...

Estava tão distante nas suas elucubrações, que não me permitia compartilhar dos seus derradeiros pensamentos - só quem era cego não via - estava se preparando para sua última viagem, sem bagagens ou malas, nada que pudesse barrá-la nas fronteiras do desconhecido.
Às vezes são as mães ou os pais que partem, outras os filhos, amigos, avós, irmãos, parentes e muitas coisas deixam de serem ditas, vividas e sonhadas...

As crianças estavam perguntando por ela.
Sua casa, onde outrora tantos transitavam. Hoje, dormia seu sono eterno. Todavia, os ecos de uma vida respiravam, assim nos Céus, como foram na Terra...
As plantinhas murchavam, mesmo regadas como de hábito. As flores pareciam suplicar por afeto maternal. Ledo engano! Ela não viria mais...
...”chama-se dor, e quando passa enluta/e todo mundo que por ela passa/há de beber a taça de cicuta/há de beber até o fim da taça”...

Ainda Assim, a lembrança de cada um que passou por ali, com um olhar de admiração ficou apenas no adelgaçado e singelo coração.
Do Latim, luz, iluminada... Era dona “Lúcia”.
Almoços aos domingos com sabores variados.
Convidados ao borbotões .
Música na vitrola.
Dançarinos bailando.
Vozes infantis ecoando.
Um farfalhar de felicidades.
Ela partiu numa manhã de setembro, curiosamente o mês que adorava. Mês das crianças, de correr atrás de balas e doces de Cosme e Damião.
Primavera angustiante que nunca mais esquecerei. Tudo me parecia indizível, não conseguia sentir o cheiro da estação.
Apenas o doloridíssimo cheiro da morte. E da certeza mesmo, ficou a dor. Foi quando ouvi dizer, bem-aventurados os puros e simples de coração, pois eles verão a Deus...

Formado em Letras Vernáculas pela UFRJ.
Autor de “O Menino que Sonhava”Infantil.


Fontes:
a casa materna/viníciusdemoraes
dor/Augustodosanjos
Mateus/cap5/v.8
Para sempre/carlosd.Andrade
reflexão.com.br/maesefilhos
wikipedia.org.br

Um comentário:

Guaracira disse...

É, sentir amor incondicional, sofrer pelo que não sente e desejar sempre o melhor para alguém, tem que ser mesmo uma pessoa muito especial: MÃE.
Vivi com a minha inúmeros momentos, felizes e tristes, caçula de 6 irmãos, pude conhecê-la mais profundamente, intenso era o nosso amor. Minha mãe era um ponto de total entendimento, paciência, conversa e meus irmãos tinham ciúmes. Eu a perdí, chorei e choro muito, sempre falo como se ela ainda estivesse aqui, do meu lado. Mãe é o nosso anjo bom sempre.
Você se superou, falar do carinho de uma mãe, da saudade que ela deixa, da falta que faz, é assunto sem fim. Uma mensagem para muitos que ainda não dão o valor para suas mães. Parabéns.

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