"NÃO VOS INQUIETEIS, POIS, PELO DIA AMANHÃ, PORQUE O DIA DE AMANHÃ CUIDARÁ DE SI MESMO. (...)" - MATEUS 6:34



domingo, 7 de dezembro de 2008

DE OLHOS BEM ABERTOS!


Bravo, bravíssimo, Mama África!

*Beto Moura


A notícia já corria desde cedo entristecendo o mundo e a África...
Morria na madrugada de 10 de novembro de 2008, na Itália, - A cantora sul-africana Miriam Makeba, conhecida no mundo como “Mama África”...
Nascida em Johanesburgo, em 4 de março de 1932, passou sua infância em Pretória e começou a cantar na década de 1950 com o grupo Manhattan Brothers. Fundou sua própria banda “The Skylarks”, que misturava jazz com música tradicional sul-africana.

Todavia, suas freqüentes declarações, em clubes noturnos, onde se apresentava, contra o regime segregacionista do Apartheid, não lhe renderam bons frutos; impedindo que sua carreira evoluísse. Os donos de casas de shows não queriam compromete-se com questões políticas e ter seus respectivos estabelecimentos fechados pelo governo.
Não demorou muito e o espaço foi se apequenando pra Makeba. A alternativa era sair do país. Muda-se então para os Estados Unidos, em 1959, com projeções alvissareiras de estabelecer condições de vida; poderia viver de sua arte, além de desenvolver outras potencialidades musicais...

Guardadas as devidas proporções, o novo público também, convivia com algumas leis racistas, em alguns estados, sobretudo no sul; naturalmente que estivessem sintonia com os mesmos ideais de la cantante...
Desde 1955, quando a costureira negra Rosa Parks, se negou a ceder seu lugar dentro de um ônibus a um branco, as manifestações ganharam contornos de revolução.
Em 1960, participa do documentário anti-apartheid “Come Back, Afrika” premiado no Festival de Cinema de Veneza. Aproveitou-se da repercussão internacional e de sua popularidade para militar contra o regime de Pretória. O que lhe custaria 31 anos de exílio; basicamente de 1959 à 1990.

Em 1963, seus discos são banidos e a cidadania cassada pelo governo sul-africano. Ocasião pós depoimento, no comitê contra o Apartheid das nações Unidas.
Em 1964, casa-se com o trompetista negro Hugh Masekela, 1966 separa-se.
Ainda em 1966, o “Grammy” chega as suas mãos por melhor gravação folk, dividindo com Harry Belafonte pelo disco “An Evening With”...
Em,1968, é laureada com o Prêmio da Paz Dag Hammerskjold, por sua posição anti-apartheid.

Na América, seu apoio ao grupo guerrilheiro dos Panteras negras, e posteriormente o casamento com o porta-voz, Stokely Carmichael, em 1969, vê seus sonhos desmoronarem mais uma vez.
Os agentes americanos estavam “de olhos bem abertos” nessa união. Logo, “Tio Sam” não perdeu tempo, partiu para o ataque num processo intenso e insidioso de boicote à carreira da cantora, que teve seus contratos com rádios e gravadoras cancelados. Isolada dos meios de difusão de sua arte, opta então, sair do país com o marido. Destino: Guiné!

A primeira vez que ouvi sua voz , foi no programa Luis de Carvalho, da rádio globo. Obviamente,ela cantou “Pata Pata”. Um sucesso que não saia das rádios...Todos saltitavam, dum lado pro outro, tentando talvez imitá-la – sobretudo as meninas – Mas não se entendia muito bem o que a canção dizia. Então, cantávamos em ritmo de paródia: “Tá com pulga, na cueca, nasci pra catar”...
Naquela época “la Makeba”tinha um jeito especial ao gingar-se ; indo do sensual ao erótico sem ser pornográfico. Não é como algumas “popstar” do nosso dia-a-dia, sem a mínima qualidade artística; chegando muito das vezes à abeira do exagero, do constrangimento, da apelação pura e simples...- fama que dura o tempo da exposição – Mas essa é uma outra história...

A primeira “Diva africana” mundialmente reconhecida, fez sua exibição no Brasil. Em 1968, na tv. Record, num especial, onde cantou e dançou sua “Pata Pata”, com a participação de “Sivuca”, mostrando laços estreitos de África-Brasil. É,vero!
Como a coragem favorece aos destemidos supera um câncer na coluna. Em 1985, perde sua filha Bongi, vitimada por complicações no parto. Em 1987, publica sua autobiografia: Makeba: Minha história. Volta ao disco, em 1988, com “Songoma”. Um sucesso, especialmente entre os europeus. De volta à África do Sul , 1990, comentou: “Nunca compreendi por que não podia voltar ao meu país, nunca cometi crime algum”...
Politicamente correta, exibiu-se como sempre fizera em toda sua vida, abrindo o coração em solidariedade ao próximo; independente de sexo, credo ou etnia. Desta feita, para o escritor italiano Roberto Saviano, que vem sofrendo ameaças da máfia napolitana, segundo agencia Ansa.

Seguramente, seus fãs não choraram no “in concert” derradeiro ; pois se chorassem por ter perdido sol, as lágrimas lhes impediriam de ver as estrelas...
Bravo!Bravíssimo, Mama África!

Fontes: estadão.com.br; o globo.com; miriammakeba.co.za; pco.org.br

*é autor de “Somente para seus olhos” (poesia – inéditas)

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