Primeira foto: Roda de Leitura
Segunda foto: Carminha e a coordenadora da Biblioteca Braille Leonilde
Terceira foto: Organizadora do Projeto Luz & Autor em Braille Dinorá Couto
Quarta foto: Voluntária da Biblioteca Mary Paiva
por Thaiza Murray
A Biblioteca Braille Dorina Nowill foi reinaugurada no dia 30 de junho de 2006, depois de funcionar em uma das salas de aula da Escola Classe 06 por 11 anos. Hoje, a Biblioteca funciona ao lado do Teatro da Praça, em Taguatinga. A organizadora Dinorá Couto, que trabalha há 14 anos como voluntária, desenvolveu o Projeto Luz & Autor em Braille, que visa estimular a leitura, a produção literária, a socialização, integrando pessoas com deficiência visual e escritores brasilienses. Diversos textos desses escritores foram transcritos em Braille, o que inspirou os deficientes visuais a também produzir. O projeto começou com 17 autores e, hoje, são 58 escritores e 83 pessoas com deficiência visual participando do livro.
Durante esses anos a turma da Biblioteca em parceria com escritores brasilienses criou o livro "Revelando Autores em Braille". Em 2001, foi lançado à tinta em Cuba e em Brasília. Em 2008, foi gravado pela voluntária do projeto Mary Paiva e, agora, em 2009, a Fundação Dorina Nowill, em São Paulo, enviou para eles a edição em Braille, que consta de três exemplares, onde poderão ler com os dedos seus próprios textos. O livro contém diversos temas. Os textos abordam assuntos sobre Brasília, natureza, biografias, experiências de vida, bem como temas sociais. Foi uma espera de oito anos com várias tentativas junto ao Senado Federal.
Há quase um ano, Mary ficou sabendo do Projeto por intermédio de uma amiga, também voluntária, e hoje desenvolve diversos trabalhos com os deficientes visuais. "Posso ficar conversando com eles, lendo para eles, ajudando-os a estudar algum conteúdo da escola, fazendo atividades recreativas, levando alguém até o metrô ou à parada de ônibus etc. É exatamente como a Sophia falou: a gente vai para ajudar e acaba sendo o maior beneficiado...", diz. Além de participar diretamente na biblioteca duas vezes na semana, Mary passou a trabalhar como ledora, gravando, em casa, livros e apostilas. Seu último trabalho com os deficientes visuais foi gravar um material para concurso público. "Gravei uma apostila para o concurso da Secretaria de Estado de Saúde em que seis deles se inscreveram. Enquanto gravava, pensava no privilégio que é poder enxergar tudo – como isso é bom e, às vezes, a gente nem valoriza! E como é bom poder compartilhar a nossa visão com aqueles que ficaram privados da sua..." Para Mary, gravar o livro "Revelando Autores em Braille" foi uma experiência incrível, um passo para fazer outras gravações importantes. "Eu conversei com a Leonilde, coordenadora da Biblioteca, sobre a minha disponibilidade para gravar. Ela então sugeriu "Revelando Autores em Braille", pois inclusive faríamos também uma surpresa à Dinorá que trabalhou na organização do livro. Conforme eu ia gravando, eu ia me encantando e emocionando com os textos cheios de beleza e profundidade..."
A organizadora e autora do Projeto, Dinorá Couto, explica que a criação do livro surgiu com a iniciativa de resgatar a autoestima e conquistar cada leitor para a escolha da obra. Um trabalho de amor e esperança. "Por meio de visitas à casa do leitor, telefonemas e reuniões na biblioteca, o futuro Autor em Braille foi produzindo o seu texto esperando, ansioso, pelo dia de conhecer o escritor que foi luz para a sua produção literária", diz Dinorá. Uma das autoras deficiente visual diz que a produção do livro em Braille representa a realização de um grande sonho. "Depois de tanto tempo de espera, agora posso ler o meu próprio texto editado em Braille pela Fundação Dorina Nowill. É a certeza de que nossa luta não foi em vão. Significa que somos capazes e que, com um braço forte como a Dinorá nos apoiando, poderemos alcançar muito mais", diz Carminha.
Foram muitos anos de eventos e divulgação do trabalho até que receberam a tão sonhada impressora Braille. A partir de então tudo ficou mais fácil. Crônicas, prosas e poesias, contos, artigos de jornais, romances e livros infantis fazem parte da bibliografia usada por eles. "A literatura está bem presente nesta biblioteca, com outros voluntários participando de uma Jornada de Leituras, ação recentemente implantada. Hoje a Biblioteca se "desloca" para onde tem leituras. É na Feira de Livros ou em escolas e bibliotecas, onde desenvolvem projetos de leitura e os deficientes visuais tomam conhecimento ou são convidados, lá estão eles. Participam ativamente, apresentam teatro, música, poesia, relacionados à literatura trabalhada no projeto. É a tão sonhada educação inclusiva, acontecendo de uma forma lúdica, prazerosa, exemplar...", diz a organizadora.
Em uma entrevista com Dinorá, ela escreveu de forma lúdica como tem sido a experiência de trabalhar com pessoas deficientes visuais, "Fascinante, costumo defini-la como uma grande Lição de Vida, extremamente gratificante. Num pôster que levei junto com o livro em Cuba, defini em versos e fotos essa experiência assim sintetizada:
Uma lição de integração
Uma lição musical
Uma lição de trabalho compartilhado
Uma lição de reconhecimento
Uma lição de amor, parceria e solidariedade
Uma lição de esforços, doações, voluntariado
Uma lição educacional
Uma lição cultural
Uma lição social
Uma LIÇÃO de VIDA!"
Dinorá afirma que esta edição em Braille trouxe grande valorização para essas pessoas, representando o respeito e a dignidade. "Representa o direito de lerem a sua produção e a de seus companheiros, com os dedos, sem precisar de alguém que leia para eles. Só quem convive com o grupo para saber o quanto esperamos por isto, alguns até já faleceram, mas temos dezenas ainda aguardando... É a cidadania vivenciada por meio de leituras".
A Biblioteca Braille Dorina Nowill participa de vários eventos em todo Brasil e no mundo. Em janeiro do ano passado participou do Fórum Social Mundial, com o Encontro "Viva a literatura e outras artes" e em setembro esteve presente na I Bienal Internacional de Poesia de Brasília. "O projeto Luz & Autor em Braille recebeu carta-convite do Peru para participar do I Congresso Latino-Americano de Compreensão da Leitura. Dinorá Couto participou do Congresso de 21 a 25-07, em Huancayo, Peru. O Projeto Braille está no PNLL/MINC e recebeu convite para Fórum e Seminário em SP, com apresentação do projeto". (Boletim Inclusão/Jornal Falado – 17/05/2008).
O Projeto cresce com ajuda de voluntários, parceiros, e com o reconhecimento e valorização de todos. A Biblioteca funciona ao lado do Teatro da Praça, na CNB 01, e está aberta não só para pessoas com deficiência visual, mas para quem tenha o interesse de participar de alguma forma, sempre com intuito de solidariedade, do estímulo à leitura e da integração social.
Equipe: Leonilde, Sandra, Noeme, Neuma, Milton, Katilene, Solange, Ildérica e Dinorá
Fones: (61)39013549 / 99701366
E-Mail: biblioBraille@gmail.com
Endereço: CNB 01 AE (ao lado do Teatro da Praça)-Taguatinga/DF CEP 72115-013
Apoio: Secretarias de Educação/Gráfica, de Cultura e Administração de Taguatinga/DF
Alguns trechos do livro "Revelando Autores em Braille":
No relato de Abraão Lincoln: "Após ter sido atendido em hospitais da rede pública do DF, voltei para casa e ainda estava enxergando. No outro dia, quando acordei, minha irmã estava limpando o quarto. Pedi a ela para acender a luz e abrir a janela. Ela disse que a luz estava acesa e a janela aberta. Virei para ela e disse que não estava enxergando nada". Sandro Santos Santiago escreveu "Quero um amor de verdade", e ele começa assim: "Quero amar alguém, não importa quem, se seu nome é Maria, Luzia, Sofia, isso não vem ao caso. Quero apenas que ela me ame e que eu a ame também, pois amar me faz muito bem". De Everaldo Gramacho retiramos uma parte do seu texto: "... Mas alguns, com um jeito tímido, começaram a falar de namorada. Meu coração batia cada vez mais forte por Maria Alice. Tudo era festa, som, alegria. Meu sonho era ser um fazendeiro e Maria Alice sonhava em ser veterinária; ela queria estudar na cidade e prometia que, após sua formatura, voltaria para a fazenda. Mas não voltou. ................ Estou com muitas saudades de você e a sua ausência me faz sentir como em meio a um temporal, sem um porto seguro. Mas, mesmo assim, espero você todos os dias. Volte, Maria Alice! Continuo à sua espera para lhe dar todo o meu amor".
Durante esses anos a turma da Biblioteca em parceria com escritores brasilienses criou o livro "Revelando Autores em Braille". Em 2001, foi lançado à tinta em Cuba e em Brasília. Em 2008, foi gravado pela voluntária do projeto Mary Paiva e, agora, em 2009, a Fundação Dorina Nowill, em São Paulo, enviou para eles a edição em Braille, que consta de três exemplares, onde poderão ler com os dedos seus próprios textos. O livro contém diversos temas. Os textos abordam assuntos sobre Brasília, natureza, biografias, experiências de vida, bem como temas sociais. Foi uma espera de oito anos com várias tentativas junto ao Senado Federal.
Há quase um ano, Mary ficou sabendo do Projeto por intermédio de uma amiga, também voluntária, e hoje desenvolve diversos trabalhos com os deficientes visuais. "Posso ficar conversando com eles, lendo para eles, ajudando-os a estudar algum conteúdo da escola, fazendo atividades recreativas, levando alguém até o metrô ou à parada de ônibus etc. É exatamente como a Sophia falou: a gente vai para ajudar e acaba sendo o maior beneficiado...", diz. Além de participar diretamente na biblioteca duas vezes na semana, Mary passou a trabalhar como ledora, gravando, em casa, livros e apostilas. Seu último trabalho com os deficientes visuais foi gravar um material para concurso público. "Gravei uma apostila para o concurso da Secretaria de Estado de Saúde em que seis deles se inscreveram. Enquanto gravava, pensava no privilégio que é poder enxergar tudo – como isso é bom e, às vezes, a gente nem valoriza! E como é bom poder compartilhar a nossa visão com aqueles que ficaram privados da sua..." Para Mary, gravar o livro "Revelando Autores em Braille" foi uma experiência incrível, um passo para fazer outras gravações importantes. "Eu conversei com a Leonilde, coordenadora da Biblioteca, sobre a minha disponibilidade para gravar. Ela então sugeriu "Revelando Autores em Braille", pois inclusive faríamos também uma surpresa à Dinorá que trabalhou na organização do livro. Conforme eu ia gravando, eu ia me encantando e emocionando com os textos cheios de beleza e profundidade..."
A organizadora e autora do Projeto, Dinorá Couto, explica que a criação do livro surgiu com a iniciativa de resgatar a autoestima e conquistar cada leitor para a escolha da obra. Um trabalho de amor e esperança. "Por meio de visitas à casa do leitor, telefonemas e reuniões na biblioteca, o futuro Autor em Braille foi produzindo o seu texto esperando, ansioso, pelo dia de conhecer o escritor que foi luz para a sua produção literária", diz Dinorá. Uma das autoras deficiente visual diz que a produção do livro em Braille representa a realização de um grande sonho. "Depois de tanto tempo de espera, agora posso ler o meu próprio texto editado em Braille pela Fundação Dorina Nowill. É a certeza de que nossa luta não foi em vão. Significa que somos capazes e que, com um braço forte como a Dinorá nos apoiando, poderemos alcançar muito mais", diz Carminha.
Foram muitos anos de eventos e divulgação do trabalho até que receberam a tão sonhada impressora Braille. A partir de então tudo ficou mais fácil. Crônicas, prosas e poesias, contos, artigos de jornais, romances e livros infantis fazem parte da bibliografia usada por eles. "A literatura está bem presente nesta biblioteca, com outros voluntários participando de uma Jornada de Leituras, ação recentemente implantada. Hoje a Biblioteca se "desloca" para onde tem leituras. É na Feira de Livros ou em escolas e bibliotecas, onde desenvolvem projetos de leitura e os deficientes visuais tomam conhecimento ou são convidados, lá estão eles. Participam ativamente, apresentam teatro, música, poesia, relacionados à literatura trabalhada no projeto. É a tão sonhada educação inclusiva, acontecendo de uma forma lúdica, prazerosa, exemplar...", diz a organizadora.
Em uma entrevista com Dinorá, ela escreveu de forma lúdica como tem sido a experiência de trabalhar com pessoas deficientes visuais, "Fascinante, costumo defini-la como uma grande Lição de Vida, extremamente gratificante. Num pôster que levei junto com o livro em Cuba, defini em versos e fotos essa experiência assim sintetizada:
Uma lição de integração
Uma lição musical
Uma lição de trabalho compartilhado
Uma lição de reconhecimento
Uma lição de amor, parceria e solidariedade
Uma lição de esforços, doações, voluntariado
Uma lição educacional
Uma lição cultural
Uma lição social
Uma LIÇÃO de VIDA!"
Dinorá afirma que esta edição em Braille trouxe grande valorização para essas pessoas, representando o respeito e a dignidade. "Representa o direito de lerem a sua produção e a de seus companheiros, com os dedos, sem precisar de alguém que leia para eles. Só quem convive com o grupo para saber o quanto esperamos por isto, alguns até já faleceram, mas temos dezenas ainda aguardando... É a cidadania vivenciada por meio de leituras".
A Biblioteca Braille Dorina Nowill participa de vários eventos em todo Brasil e no mundo. Em janeiro do ano passado participou do Fórum Social Mundial, com o Encontro "Viva a literatura e outras artes" e em setembro esteve presente na I Bienal Internacional de Poesia de Brasília. "O projeto Luz & Autor em Braille recebeu carta-convite do Peru para participar do I Congresso Latino-Americano de Compreensão da Leitura. Dinorá Couto participou do Congresso de 21 a 25-07, em Huancayo, Peru. O Projeto Braille está no PNLL/MINC e recebeu convite para Fórum e Seminário em SP, com apresentação do projeto". (Boletim Inclusão/Jornal Falado – 17/05/2008).
O Projeto cresce com ajuda de voluntários, parceiros, e com o reconhecimento e valorização de todos. A Biblioteca funciona ao lado do Teatro da Praça, na CNB 01, e está aberta não só para pessoas com deficiência visual, mas para quem tenha o interesse de participar de alguma forma, sempre com intuito de solidariedade, do estímulo à leitura e da integração social.
Equipe: Leonilde, Sandra, Noeme, Neuma, Milton, Katilene, Solange, Ildérica e Dinorá
Fones: (61)39013549 / 99701366
E-Mail: biblioBraille@gmail.com
Endereço: CNB 01 AE (ao lado do Teatro da Praça)-Taguatinga/DF CEP 72115-013
Apoio: Secretarias de Educação/Gráfica, de Cultura e Administração de Taguatinga/DF
Alguns trechos do livro "Revelando Autores em Braille":
No relato de Abraão Lincoln: "Após ter sido atendido em hospitais da rede pública do DF, voltei para casa e ainda estava enxergando. No outro dia, quando acordei, minha irmã estava limpando o quarto. Pedi a ela para acender a luz e abrir a janela. Ela disse que a luz estava acesa e a janela aberta. Virei para ela e disse que não estava enxergando nada". Sandro Santos Santiago escreveu "Quero um amor de verdade", e ele começa assim: "Quero amar alguém, não importa quem, se seu nome é Maria, Luzia, Sofia, isso não vem ao caso. Quero apenas que ela me ame e que eu a ame também, pois amar me faz muito bem". De Everaldo Gramacho retiramos uma parte do seu texto: "... Mas alguns, com um jeito tímido, começaram a falar de namorada. Meu coração batia cada vez mais forte por Maria Alice. Tudo era festa, som, alegria. Meu sonho era ser um fazendeiro e Maria Alice sonhava em ser veterinária; ela queria estudar na cidade e prometia que, após sua formatura, voltaria para a fazenda. Mas não voltou. ................ Estou com muitas saudades de você e a sua ausência me faz sentir como em meio a um temporal, sem um porto seguro. Mas, mesmo assim, espero você todos os dias. Volte, Maria Alice! Continuo à sua espera para lhe dar todo o meu amor".
Um comentário:
Parabéns a todos por tão nobre conquista. Somos responsáveis por aquilo que cativamos, já dizia exupéry. Lamentamos ainda, a paupérrima situação, das edições em Braile...
Parafraseando Virgilio A "Sorte" favorece aos destemidos...
Paz e harmonia,
Beto.
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