"NÃO VOS INQUIETEIS, POIS, PELO DIA AMANHÃ, PORQUE O DIA DE AMANHÃ CUIDARÁ DE SI MESMO. (...)" - MATEUS 6:34



sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DE OLHOS BEM ABERTOS

Machado de Assis: Cem anos de solidão

Beto Moura *

A expressão é de Gabriel Garcia Marques, prêmio Nobel de literatura em 1982. Mas o homenageado é Machado de Assis pelos cem anos de solidão...
O Ministério da Cultura (Minc) instituiu em 2008 como O ano de Machado de Assis. O centenário marca ainda uma agenda intensa e muitas atividades culturais, durante todo este ano, em homenagem ao mestre com carinho, que se alastraram e alastrarão do Oiapoque ao Chuí.

Quando a primavera chegou trazendo sua magia austral, salpicando com o reflorescimento da flora e da fauna, nosso gênio disse adeus, era então, 29 de setembro de 1908. Porém, seus personagens ficariam marcados eternamente em nossas lembranças; primeiros os românticos, depois, realistas e os parnasianos, numa crítica à estética de Lord Byron, Schopenhauer, madame D`staël. ..

Caro Machado! As experimentações de Sterne ,Swift ou ainda Xavier de Maistre em seu próprio texto, trouxeram bons frutos. Hoje, a intertextualidade é uma prática na literatura contemporânea. Um ganho pra alguns autores dentre eles : você. Todavia, alguns críticos não pensam duas vezes e ao lerem o livro “The Life and Opninions of Tristam Shandy, Gentheman”, de Sterne. Não o perdoam; sentem-se ludibriados por usar e abusar das inovações técnicas, e a semelhança de enredo, na obra: Brás Cubas...

Assim passaram a colocar um olhar oblíquo e dissimulado como os de Capitu, suspeitando das suas reais qualidades e relevância dentre os maiores escritores, em literatura de língua portuguesa e quiça, latino-americana!
Tantas coisas foram escritas nesse mundo de meu Deus! Que não podemos pensar tolamente, em sermos originais ou autênticos...Aliás, a palavra autenticidade vem do grego que, em seu primeiro momento semântico, queria dizer “suicídio”. É, vero! Mas essa é uma outra história...

A revista época de 29 de setembro de 2008 tem sua foto na capa e em seu miolo, divulga os livros que o influenciaram a elaboração da sua densa Literatura. Rafael Pereira, na matéria: “A estante do autor”, comenta sobre os dez livros guardados a sete chaves, pela Academia Brasileira de Letras:

O já citado: A vida e opiniões de Tristram Shandy – Laurence Sterne, Viagens ao redor do meu quarto – Xavier de Maistre, Otelo, o Mouro de Veneza – William Shakespeare – A Divina Comédia – Dante Aleghieri, Tragédias – Sófocles, Dom Quixote de La Mancha – Miguel de Cervantes, O mundo como vontade e Representação – Arthur Schopenhauer, Viagem a minha Terra – Almeida Garret, A Família ~ A mãe - Eugene Pelletan, Oliver Twist – Charles Dickens...Todos exercendo fortes influências como: interlocução direta ao leitor, referências renitentes aos clássicos (grego-latino), digressões longas e outras cositas mais...

A Bíblia não foi citada, contudo, foi fonte inesgotável de pesquisa em sua obra... A criação literária não apresenta o mundo da forma como ele é. Sabemos disso, caro amigo!Parece-nos que a admiração e leituras de bons modelos , foram fontes inspiradora de uma outra realidade; pois o “artista” re-elaborou uma nova realidade, isto é, imitou outra realidade, é que os gregos chamavam-na de “mimesis”
O exemplo disso, Fernando Pessoa em seu poema autopsicografia diz: ”O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente/E os que lêem o que escreve/Na dor lida sentem bem/Não as duas que ele teve/Mas só a que eles não têm”...

Machado de Assis, segundo Harold Bloom, é o maior escritor negro de todos os tempos. Um gênio nascido de modo improvável num Brasil extremamente subdesenvolvido do século XIX. Mas não se conteve apenas em divulgar tais aspectos aos quatro cantos do mundo; mas também, incluí-lo em um dos seus livros: “Genius: A Mosaic of One Hundred exemplary Creative Minds” , onde selecionou 100 dos seus escritores preferidos, entre clássicos: Cervantes, Shakespeare, Homero e Gênios mais contemporâneos: Joyce, Kafka e Faulker! Coincidência Ou não. A homenagem chega em boa hora. Exatamente quando o Brasil comemora o “centenário de solidão”...

Caso sirva de consolo Nelson Rodrigues disse: Toda unanimidade é burra!Então, caríssimos leitores, façam o que tem que ser feito e tire suas próprias conclusões, dando a César o que é de César e Machado o que é de Machado... Tudo isso cansa, tudo isso exaure. Sob esse sol, nada existe que seja novo. Precisamos suportar com paciência a cólica do próximo, olhando as coisas, como nossos olhos não tivessem habituados nesses cem anos de solidão.

* Formado em letras Vernáculas na UFRJ.
Os desmandamentos das cores.
(Infantil inédito)

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